12 de maio de 2021

Contemplação

No caminho entre estradas e becos,

repleto de contemplação,

uma alegria sem intermitências,

alterna versos e solidão.

 

Nessa confluência de ilusão

brotam teorias da vontade,

brindam harpas e arcanjos,

no arranjo da verdade.



 

 

 

 

 

 

Cadência Imaginária


Movimentos,

palavras e ausências.

E a melhor parte da história

é a que não se fala.

No ritmo do irreal,

a imaginação exala.

 

Perder-se entre o céu e o chão.

mera tribulação

sem caminhar pelo óbvio,

da profecia ou tradução.


Nessas parcas cronologias

e interrupções temporais,

o anacrônico vira poesia,

de encontros surreais.



 

 

3 de maio de 2021

Mãe, Minha Proteção

 

Proteção é um dom,

antes do nascimento.

Manta que te aquece

e priva do sofrimento.

 

É palavra que orienta,

abraço longo e afago na dor.

Traz manhãs iluminadas

no cuidado cheio de calor.

 

Beijo na face,

mão estendida,

mãe é anjo,

por Deus escolhida.

 

Faz comida predileta,

Põe roupa quente, cobertor.

Mãe tem leitura de alma,

carinho, ternura e louvor.

 

E encerrando essa homenagem,

manifesta em sentimento profundo,

preciso dizer da sua coragem

e do seu amor, o  mais sublime do mundo.





 


O Olhar Pelo Outro

 

O olhar pelo outro diz muito sobre o ser humano.

O idoso com a visão comprometida e seu o caminhar lento e pessoas com deficiência, têm muita dificuldade de locomoção. Percebo o quanto essas pessoas são invisíveis para muita gente, sem compaixão e algum respeito.

Qualquer obstáculo minúsculo tem proporção muito maior para alguém com mobilidade reduzida. É muita dificuldade.

Observe nossas calçadas. Quantos desafios até para quem não tem problemas. Para quem tem, fica quase impossível transpor buracos, calçadas quebradas, elevadas em razão de raiz de árvores, etc.

E quando estamos nas filas de algum lugar público como supermercados, farmácias, padarias, bancos?

Faça um esforço em olhar mais para as pessoas e suas necessidades. Olhe para os lados. Tenha compaixão pelo próximo. Existem tantos problemas maiores que os nossos. Existe o outro.

Estive imobilizada durante um mês em razão de um pequeno acidente e fiquei impressionada com a falta de respeito das pessoas. Eu estava com o pé engessado, com muleta, andando com muita dificuldade e a maioria das pessoas atravessava na minha frente sem nem olhar. Não fiquei com pena de mim. Fiquei pensando nas pessoas que possuem dificuldades permanentes, que esperam a mínima consideração dos outros. Que são desrespeitadas durante toda a vida. Na farmácia uma mulher passou na minha frente na fila e nos correios, as pessoas ignoraram meu problema. Inclusive os funcionários. Em um mês, não vi ninguém com um olhar de comiseração.

Podemos distribuir atenção e respeito, como forma de afeto e promover a inclusão a partir de um exercício diário de amor ao próximo. Aliás, falando assim, parece que respeito é um favor. Respeito é uma obrigação, existem leis. Mas esse respeito pelo próximo, diz mais sobre nós. O ser humano que respeita o próximo, tem uma nobreza de alma, uma beleza, uma dignidade.

A empatia é um presente diário para o outro mas, principalmente, para nós mesmos.

Estamos aqui para evoluir.




 

 

2 de maio de 2021

O Espectro e a Dialética

Passamos a vida

procurando por respostas,

acreditando em pessoas,

buscando espaços

para expressar nossas verdades.

 

Coexistentes do espectro

que baila pujante

pelo ardil plúmbeo

dos reveses,

incineramos,

diversas vezes,

retóricas condensadas

por qualquer vaidade,

remanescente e tóxica,

em fogueiras intrépidas,

adornadas

por espasmos comoventes

de chamas febris

e faíscas irascíveis,

contundentes e perversas.

 

Trazemos a esperança

compilada em manuscritos,

arrancada de entranhas

seculares e secretas,

que desaguam em

versões e ressureições,

esquecidas entre as brumas,

debruçadas em tórrida

revelia

e trazidas

na alvorada

moldurada

pelo esplendor

do sol nascente.



 

 

 

.

Mate o Ego

Mate o Ego

 

Dome a impetuosidade e

Brevidade de suas emoções.

Para um ser humano inteiro

de consciência plena

que não depende

de outra metade.

 

O equilíbrio dorme

nas profundezas

das razões,

entorpecidas

pela essência

da autoimagem,

de um ego equivocado

e mesquinho.

 

Ouça as pessoas.

Extravie suas opiniões.

Mate o ego

Para emergir

Da angústia e

Resplandecer na

Incoerência das

Convenções reversas

e ajustes insólitos.

 

 



 

Expectativas Sintéticas

Somos traídos,

Dia após dia,

Pelas expectativas

que criamos.

Nos decepcionamos

com pessoas,

por depositar

nossa totalidade

existencial no outro.

Diz respeito

somente a nós mesmos,

a responsabilidade

pelos sentimentos.

 

Sim,

muitas expectativas

são descartáveis.

Posso brindar a Perls,

com a melhor

e mais expressiva,

cepa de Shiraz,

pelo despertar

da consciência

em oração

‘Eu sou eu

Você é você.

Se nos encontrarmos,

Será lindo.

Se não, nada há a fazer.’

E está tudo bem.





 


27 de abril de 2021

Sobre Vencer o Mundo

 Muitas vezes,

Não é sobre vencer adversidades.
Não é sobre ter sorte,
Dinheiro ou beleza.

Muitas vezes,
É sobre vencer a si mesmo.

Vencer medos,
desconfianças,
manias,
curar as próprias chagas.

Todos nós temos cicatrizes,
não somos os únicos,
nem somos tão especiais por isso
e o mundo, quase sempre,
não nos tratará
de forma melhor
por essa razão.
A lamentação, cega.

Abrir os braços e agradecer,
parar de esperar reconhecimento,
congratular os próprios méritos
e tratar-se com gentileza,
mostra a grandeza do ser humano
que se é,
a alguém incrível:
nós mesmos.

E tudo começa a mudar.
A chave é de dentro
Para fora.
O mundo começa
por nós.


 

 

 

 

 

 

25 de abril de 2021

Mãe, Plenitude Solar

Ela sorria

e inspirava pessoas.

Aos domingos

Tão solar,

E plena de gestos,

cantava

a música que gostava.

 

Ela tinha alegria

Cheia de vida

e amava,

a família

e seu canteiro de azaleias,

que um perfume exalava.

 

Ela era cheia de sonhos,

ela era forte

e levava esperança

aos mais carentes.

Ela era minha mãe

Em seu coração:

muito amor.


                                               Flória Britez de Eugenio

 

 

 

 

 

Beleza Rara


Ela me ligou na hora do almoço e pediu que a levasse ao médico.

Eu lhe disse que estaria trabalhando, mas deixaria meu carro com ela.

Então passei em sua casa e ela me deixou no trabalho. Uma hora depois, um amigo me ligou e disse: encontrei sua mãe e ela estava com dificuldade para dirigir.

Fiquei muito preocupada e levei-a ao médico que a examinou e pediu uma tomografia da cabeça. Ele disse que poderia ser um AVC, acidente vascular cerebral e por essa razão, ela estava com os movimentos reduzidos do lado esquerdo. Fiquei bem assustada. Minha mãe? Mas a mamãe é tão ativa, tão cheia de vida, que estranho acontecer isso. Mas, de qualquer forma, vamos fazer logo o exame e começar o tratamento indicado.

As virtudes que sempre reconheci em minha mãe, foram sua força e coragem em enfrentar o desconhecido, as adversidades. Ela não tinha medo de nada.

Certa vez, meu pai quis passar o Ano Novo em uma fazenda. Mamãe não gostou da ideia, preferia a festa no clube da cidade. Mais perto e mais animado. Mas ele a convenceu e lá fomos nós. Papai tinha uma caminhonete com capota e arrumaram um colchãozinho para acomodar os três filhos na carroceria, durante a viagem. Naquele tempo, podia. Saímos depois do almoço para a tal fazenda. No entardecer, ainda estávamos na estrada. A ideia era chegar ainda de dia na fazenda. Era estrada de terra, não tinha iluminação e meu pai estava indo pela primeira vez para aquele lugar.  Dormimos. De repente, acordamos e a caminhonete estava atolada em um arado. Minha mãe já estava preocupada, meu pai também. Como sairíamos dali? No meio do nada, na escuridão. Mamãe colocou os três filhos na cabine, por causa dos morcegos. Ficamos os cinco, esperando sei lá o quê, num breu sem fim. Eu tinha onze anos e nunca havia sentido tanto medo na vida. Pensei que iríamos morrer de frio, ou de fome, ou comidos por uma onça. Cheguei a pensar na brevidade da vida, talvez tenha sido a primeira vez que fiquei em reflexão. Por que viemos, meu Deus? Por que estamos aqui? Por que aconteceu isso? Por muitas horas eu me senti em um filme de terror, com medo de algo que nem imaginava. Mas meus pais estavam ali e nos transmitiam segurança. Eu confiava em Deus. Eu confiava na força da minha mãe. Eu confiava nos meus pais. E dormimos ali, atolados no arado, em um ano novo pavoroso, que parecia não ter fim. Quando amanheceu o dia, apareceu um senhor que prestou socorro e nos tirou daquele lugar inóspito. Era o fim do suplício. Sobrevivemos, intactos.

Eu lembrei dessa história, quando fui buscar o resultado do exame no laboratório. Eu imaginava que seria um AVC pelo diagnóstico prévio e já estava me preparando, para conviver com essa nova realidade e ajudar minha mãe.

Estava, com o resultado do exame em mãos, a caminho do hospital, onde a mamãe foi internada em razão de forte tontura. Resolvi parar no posto de gasolina para abastecer. No rádio, tocava uma música linda chamada Beleza Rara. Enquanto o frentista abastecia, abri o envelope. Observei o exame. No lado direito do cérebro, uma imagem circular, grande e de cor laranja. Eu sabia que aquilo era imagem de um tumor enorme. Fiquei imóvel, em estado de choque. Minha amada mãe, de Beleza Rara, estava com algo grave.

No hospital, com meu pai e meus irmãos, ouvimos o parecer do médico: “Ela tem um glioblastoma de quarto grau. A estimativa de sobrevida é de três meses. Não adianta nem fazer cirurgia.”

Ela quis fazer a cirurgia e teve uma sobrevida de oito meses.

Antes de entrar em coma, ela me chamou em sua casa, para me contar uma história. A última história que me contaria. Vi seu sorriso pela última vez.

Mamãe partiu no mês de maio, depois de comemorarmos o dia da mãe.

E foram tantas comemorações. Como ela gostava de festas. Como tinha alegria.

Obrigada mãe por tudo que me ensinou: amar, lutar pelos sonhos e ideais, agir, não se abalar com os obstáculos pois são justamente eles que nos tornam mais fortes, reconhecer os erros, pedir desculpas, dizer obrigada, pedir 'por favor'. E outros valores indeléveis. Seu nome: Coragem.

Nunca te esquecerei, porque sou parte de você. 

Muito amor e gratidão eterna.



 

 

Ame-se Um Tanto Assim

Logo cedo,

em frente à estrada,

seguindo o trecho,

no cerne de capilaridade.

Cortando a cana,

bebendo seu caldo,

ou estrilando senhas e diapasões

pelas guaviras dos cerrados.

Ame-se

Um tanto assim.


Mesmo enfrentando

horrores e serpentes,

elegante sobrevivente,

do espanto e da discórdia.

Renuncie à catarse distópica,

num preâmbulo qualquer,

em epifania de querubim.

 

 

2 de abril de 2021

Na Manhã de Segunda-Feira

 

Na manhã de segunda-feira,

tecem-se os planos,

rogam-se aos anjos

proteção para semana inteira.

 

Tem trânsito impaciente

e pedestre apressado,

a esperança é espairada

com muita fé por todo lado.

 

O carro que se adianta,

o estudante com dever na mão,

o trabalhador de passos largos

 e o ciclista na contramão.

 

Tem ambulante na calçada

Com muita mercadoria

E a senhora oferece ao mendigo,

todo o troco da padaria.

 

O executivo tem na agenda

Pausa e café para despertar o dia.

Tempo de trabalho abençoado.

Seja bendita a semana se inicia.



 

1 de abril de 2021

Crepúsculos de Outono

 



Fique à vontade.

Escolha uma porta

ou qualquer fenestra

e trave dialética com a natureza.

 

Crepúsculo de Outono

é uma carta que diz: 

desfaça-se das folhas secas

e descame sua epiderme,

ainda que à revelia.

 

Tal fulgor

De inebriante cor laranja,

Rasga frações introspectas,

Com conceitos exilados

valores diversos,

indagações e possibilidades.

Afirma mutações,

reconhece
e alcança dons.

Tange capacidades.

 

Essa imersão em seu próprio mundo,

legitima reflexão e

autoconhecimento.
Reorganiza

pessoas,

coisas, 

e despe dileção

por sua verdadeira,

única

e irretocável

essência.